Pular para o conteúdo

Boas-vindas!

Compartilhe e discuta o conteúdo conforme seu Nível e Domínio, aprenda mais e pontue para uma avaliação de novo acesso de Nível do seu programa atual.

Inscreva-se

Esta pergunta foi sinalizada
1 Responder
82 Visualizações

Resumo do Artigo: 

“Pode um Vilão Ter Bom Gongfu? — Uma Exploração Preliminar da Ética do Gongfu”

O artigo de Peimin Ni, publicado no Journal of Chinese Philosophy em 2016, explora o conceito de gongfu (frequentemente traduzido como “kung fu”) não apenas como artes marciais, mas como uma “arte de viver” mais ampla, englobando habilidades cultivadas em várias áreas, como culinária, dança ou até mesmo uma vida ética, conforme entendido pelos neoconfucionistas da dinastia Song-Ming, taoístas e budistas. A questão central é se indivíduos com caráter moral questionável (“vilões”) podem possuir um gongfu excelente — ou seja, habilidades ou competências altamente refinadas.


Tem três Estágios para Entender a Relação entre Gongfu e Moralidade:


•  Estágio 1: Sim, vilões podem ter bom gongfu. Ni argumenta que gongfu (como habilidade ou competência) e moralidade são categorias distintas. Uma pessoa pode ser extremamente habilidosa em uma arte (por exemplo, artes marciais ou caligrafia) sem ser moralmente virtuosa. Por exemplo, um lutador cruel pode dominar técnicas de artes marciais, mas carecer de integridade ética.

•  Estágio 2: Não, vilões não podem ter bom gongfu. Em um nível mais profundo, Ni sugere que a bondade moral está entrelaçada com a virtuosidade do gongfu. Ações imorais refletem uma falta de cultivo interior, o que impede a verdadeira mestria. Nesse sentido, um “vilão” pode ter habilidades técnicas, mas não a excelência holística que o gongfu implica no pensamento confucionista, onde o autocultivo e a vida ética são centrais.

•  Estágio 3: Pessoas morais não são verdadeiros mestres do gongfu se dependem apenas da moralidade. Ni propõe que a verdadeira mestria do gongfu transcende a adesão consciente a regras morais. Uma pessoa moralmente boa que ainda precisa deliberar sobre ética não internalizou completamente a arte de viver. Verdadeiros mestres do gongfu, como Confúcio aos 70 anos (descrito em Analectos 2.4), agem em harmonia com seus desejos sem violar limites éticos, alcançando um estado de virtude sem esforço.


Gongfu como uma Arte Prática:

Ni enfatiza que o gongfu envolve habilidades práticas e encarnadas, desenvolvidas por meio de esforço e cultivo, não por teorizações abstratas. Isso está alinhado com o foco confucionista no autocultivo e em viver bem, em vez de buscar verdades metafísicas. 

Ele contrasta isso com tradições filosóficas ocidentais, que frequentemente priorizam o conhecimento teórico ou princípios morais universais. Na perspectiva do gongfu, declarações morais são vistas como instruções ou métodos para florescer, não como regras rígidas.


Implicações Éticas:

Ni explora uma ética do gongfu enraizada no pensamento chinês tradicional, onde o foco está na transformação de si mesmo por meio da prática para incorporar habilidades excelentes. Essa perspectiva avalia ações com base em sua eficácia para promover uma vida boa, em vez de sua aderência a padrões morais absolutos.


O artigo sugere que a ética do gongfu pode oferecer uma nova abordagem para entender e avaliar filosofias orientais e ocidentais, potencialmente levando a conceitos como epistemologia ou estética do gongfu.


Relativismo e Críticas:

A estrutura de Ni foi criticada por tender ao relativismo ético, já que o gongfu pode ser aplicado a qualquer fim, moral ou imoral (por exemplo, um “gongfu de matar”). Críticos argumentam que essa abertura aos fins escolhidos por indivíduos pode carecer de uma base para condenar ações claramente malignas, como as de figuras históricas como Hitler. Ni responde que a crítica a tais ações viria de dentro da própria prática de gongfu de cada um, embora essa defesa perspectivista possa não satisfazer plenamente aqueles que buscam fundamentos morais universais.


p/s: sobre essa aparente relativização moral, podemos ainda continuar o estudo, ficaria claro que ela não acontece. 

Avatar
Cancelar
Melhor resposta

Peimin Ni, ao discutir isso, se aproxima de uma visão aristotélica da excelência (aretê), onde não basta ser eficaz — é preciso ser bom no sentido ético para realizar plenamente a excelência humana.

O Kung Fu não é apenas o “fazer bem feito”, mas o “viver bem” — o que requer sinceridade, harmonia, respeito ao Do (道).

Apesar de que "Viver bem" é relativo também, um mau caráter, ou um bandido pode sentir ou achar que vive bem.

Quando Kung Fu é entendido apenas como habilidade técnica, ele pode ser perigoso ou "eticamente" neutro. 

Mas quando é compreendido como um modo de cultivo humano amplo, ele se torna uma via para o aperfeiçoamento da humanidade — tanto do indivíduo quanto da sociedade.

Entramos na questão de que o Kung Fu pode ser rico ou empobrecido, conforme palestrei no Senado Federal, algo nesse sentido. 

Por exemplo:

Refinar atitudes, emoções e intenções.

Desenvolver discernimento apropriado no agir cotidiano.

Viver com atenção, zelo, respeito e compaixão.

Para Peimin Ni, e também para eu como Si Fu de vocês, enxergo o Kung Fu como um caminho para uma humanidade melhorada porque propõe uma prática de vida boa (Kung Fu) que une zelo, competência, e sabedoria.  Isso combate visões fragmentadas da excelência (por exemplo, ser tecnicamente brilhante, mas moralmente falho) e propõe um modelo mais interessante de ser humano. Apesar desse ser humano ser falho e errante

É uma forma de “humanismo ativo”, que promove o florescimento humano em vez de apenas resultados ou performances corporais.


Conversando recentemente com o Sigung de vocês sobre cognição corporificada, resolvi pesquisar um pouco e relacionar.


Peço que avaliem e comentem sobre essas relações que fiz, podem ser corretas, relativas ou inapropriadas:


A conexão entre o conceito filosófico de Kung Fu (como arte de viver) e a cognição corporificada (embodied cognition) é profunda e rica. Ambos rejeitam uma separação rígida entre mente e corpo, e afirmam que o conhecimento, a moralidade e o raciocínio são vividos e praticados corporalmente.


Cognição corporificada: uma visão geral


A cognição corporificada é uma teoria contemporânea da ciência cognitiva que afirma:

A mente não está isolada no cérebro, mas distribuída pelo corpo e suas interações com o ambiente.

O raciocínio, a emoção e o conhecimento emergem da ação situada, da prática e da experiência encarnada.

O corpo é parte ativa do pensar — não apenas um “veículo” para uma mente separada.


Kung Fu e corpo como sabedoria


Na visão de Peimin Ni, Kung Fu é:


Uma forma de sabedoria prática incorporada: você sabe com o corpo, não apenas com conceitos abstratos.

O corpo experienciado no Kung Fu (Programa MYVTSG + Sistema Ving Tsun + Vida Kung Fu) não apenas “executa” algo, mas manifesta caráter, intenção e virtude.


Como na cognição corporificada, o corpo não é passivo, mas um meio essencial de cultivo ético e existencial.


Ambos enfatizam prática, não apenas teoria (Pensamento Chinês)


Assim como a cognição corporificada critica o intelectualismo puro, Kung Fu também se opõe a uma moralidade meramente teórica. Para ambos:


O saber vem da prática cotidiana e repetida.

A excelência (moral, estética, técnica) surge da integração sensório-motora, afetiva e ética.

A mente e o corpo estão em processo, mutuamente moldando-se.


Um mestre em Kung Fu (marcial) ou em caligrafia não apenas sabe “como fazer”, mas é transformado por anos de prática: seu corpo, emoções, julgamento e intuições foram refinados.

Isso espelha estudos em cognição corporificada que mostram que o julgamento moral, por exemplo, é influenciado por postura, gestos, ritmo e prática física.


O conceito de Kung Fu como arte de viver, incorporando técnica, moralidade e refinamento, antecede e ressoa fortemente com as ideias modernas de cognição corporificada. Ambos propõem uma visão integral do ser humano, onde corpo, mente e mundo estão entrelaçados em um processo contínuo de cultivo e compreensão.

O que pensam a respeito? Aguardo comentários

Avatar
Cancelar
Publicações relacionadas Respostas Visualizações Atividade
2
jun. 25
115
1
mai. 25
111
1
mai. 25
52
0
abr. 25
92
0
abr. 25
45