Na tradição do Ving Tsun Kung Fu, o cultivo do Kung Fu não se restringe à prática marcial no sentido físico. O Patriarca Moy Yat dedicou grande parte de sua vida à transmissão de uma abordagem mais profunda: o Kung Fu como uma arte de viver — uma expressão integral do ser humano em seu processo contínuo de refinamento.
Luk Dim Bun Gwam em um tradicional restaurante cantonês
Quantas ocasiões aconteceram de aprendizados, por exemplo do Bastão Longo (Luk Dim Bun Gwan, em momentos como esse, onde muitos incautos acham que somente em uma "aulinha" ou MPA no Mo Gun, e o aprendizado segue, muito além...
No coração desse processo está o Sam Faat (心法) — o Método da Mente ou Via do Coração. Este conceito não se refere apenas a estratégias cognitivas ou emocionais, mas à capacidade de transformar nossa maneira de perceber, reagir e atuar no mundo, a partir de um estado de consciência mais refinado. É por meio do Sam Faat que o praticante começa a compreender que o verdadeiro combate se dá nos campos da intenção, da leitura do outro e da organização interior diante dos desafios da vida.
Para o Patriarca Moy Yat, o desenvolvimento do Kung Fu deveria estar inserido na vida cotidiana, permeando as decisões, as relações e os momentos mais simples do dia a dia. Essa integração entre prática e vida foi por ele chamada de Vida Kung Fu, uma expressão que convida cada discípulo a aprender com a vida e transformar a si mesmo por meio dela.

Transmitido oralmente, em contextos convivenciais, o Sam Faat não se aprende em apostilas nem se resume a técnicas. Ele se revela aos poucos, a partir da relação com um mentor experiente, e exige um compromisso pessoal com a própria transformação.

Mestre Thiago Pereira M.Q. (Moy Fat Lei) com sua companheira da Tailândia, sempre presentes em nossos momentos de convivio ricos em São Paulo.
A Riqueza dos Momentos de Convívio com a Família Imamura
Ao longo de minha trajetória no Ving Tsun Kung Fu, tive a honra e o privilégio de viver preciosos momentos de convivência com os membros da Família Imamura, cuja contribuição para a preservação e difusão da Linhagem Moy Yat no Brasil é incomensurável. Esses encontros sempre se revelaram mais do que simples reuniões ou ocasiões sociais: foram verdadeiras expressões da Vida Kung Fu, repletas de significado, afeto e aprendizado sutil.
É impossível falar dessa convivência sem mencionar a figura do Grão-Mestre Leo Imamura, meu Si Fu, cuja liderança visionária tornou possível a estruturação do Sistema Moy Yat Ving Tsun no país. Ao lado dele, cada membro de sua família oferece uma dimensão única desse legado.
O contato com seu irmão, Evandro Imamura, sempre trouxe uma presença marcante, serena e sensível, refletindo um comprometimento discreto, mas profundamente enraizado com os valores da Tradição. Já com Issao Imamura, reconhecido nacionalmente como ilusionista, vivi recentemente momentos de troca e admiração mútua — não apenas pelo talento artístico, mas por seu espírito acolhedor e sua conexão visceral com o universo do Kung Fu, que herdou naturalmente de sua linhagem familiar.
Ao seu lado, a sempre elegante e inspiradora Cybele Imamura, que vem se destacando como uma voz sensível e autêntica, especialmente em sua presença digital, onde reflete a harmonia entre a tradição familiar e a vida contemporânea. Sua atuação discreta e ao mesmo tempo impactante revela o valor das influências que transcendem os aspectos formais do Kung Fu.
Não posso deixar de lembrar com carinho e reverência do Sr. Malho Imamura, patriarca da família, cuja presença transmite nobreza e solidez — uma figura que inspira respeito e serenidade. E, com profundo afeto, menciono a Sra. Eda Imamura, cuja hospitalidade e doçura marcaram tantos encontros que transcenderam o protocolo e se tornaram verdadeiros exemplos de convivência Kung Fu em sua forma mais espontânea.
Cada momento junto a essa família é uma oportunidade de compreender o que significa transmitir um legado não apenas com palavras e técnicas, mas com gestos, posturas e modos de estar no mundo. Mais do que uma família de mestres, a Família Imamura representa, para mim, um farol de continuidade, integridade e humanidade dentro do caminho que escolhi trilhar.
A Riqueza da Convivência com Meu Discípulo Diego Machado (Moy Ji Gwoh)

Em minha trajetória como líder da Família Kung Fu Moy Ka Lai To, tenho vivido inúmeros momentos de profunda realização, mas poucos se comparam à alegria silenciosa e firme que é acompanhar o desenvolvimento de meu discípulo Diego Machado, conhecido na Linhagem como Moy Ji Gwoh, o Dai Dai Ji de nossa família.
Nosso convívio tem sido marcado por uma constância rara, onde o vínculo não se constrói apenas nas sessões formais de estudo, mas principalmente nos gestos cotidianos de presença, escuta e responsabilidade compartilhada. Diego representa uma geração que, mesmo diante das exigências do mundo contemporâneo, escolhe cultivar o Kung Fu como um modo de viver — e não apenas como uma prática técnica.
Ao longo do tempo, sua postura madura, sua disposição para o aprendizado e sua lealdade à estrutura da Tradição o tornaram uma presença indispensável no cotidiano do Polo Kung Fu Life. Com discrição, mas também com firmeza, Moy Ji Gwoh tem exercido uma influência significativa sobre os membros mais novos, tornando-se um referencial silencioso de dedicação e constância.
O que mais me toca em nosso relacionamento é a naturalidade com que a Vida Kung Fu se manifesta em nosso convívio. Seja na preparação de uma atividade, em uma conversa informal, ou no silêncio partilhado antes de uma cerimônia, há ali a presença sutil do Sam Faat — aquele “método da mente” que não se ensina com palavras, mas se transmite pela convivência real, olho no olho, gesto a gesto.
Sua caminhada como Dai Dai Ji não é apenas um título dentro da estrutura tradicional; é uma expressão viva de sua função enquanto elo de continuidade e fortalecimento de nossa Família Kung Fu. Em Diego vejo não apenas um discípulo, mas um verdadeiro companheiro de jornada — alguém que, com respeito e coragem, se deixa transformar pelo caminho, ao mesmo tempo em que transforma o próprio caminho com sua presença.
É uma honra poder caminhar ao lado de alguém como Moy Ji Gwoh. E mais ainda: é um privilégio chamá-lo de discípulo, e reconhecê-lo como expressão viva do legado que recebemos dos mais antigos.
A Riqueza da Convivência com Meu Discípulo Juan Federico Fuchs (Moy To Gaap)

Entre os muitos tesouros que a Vida Kung Fu me oferece diariamente, poucos são tão marcantes quanto a relação construída ao longo dos anos com meu discípulo número 2, Juan Federico Fuchs, conhecido na Linhagem como Moy To Gaap.
Desde os primeiros momentos de convivência, Juan demonstrou uma postura que vai além da busca pelo saber técnico. Em sua trajetória, sempre percebi uma presença comprometida, questionadora e ao mesmo tempo profundamente respeitosa — características que revelam não só um discípulo dedicado, mas também um ser humano em constante refinamento.
Ao longo dos anos, nossa convivência se firmou como uma via de mão dupla, onde tanto transmito quanto recebo. Moy To Gaap se destaca pela sua capacidade de absorver os conteúdos da Tradição com profundidade, conectando os princípios do Ving Tsun aos desafios reais da vida cotidiana. Sua sensibilidade para perceber o que está além da superfície faz dele alguém com quem é possível compartilhar reflexões mais finas sobre o caminho.
Em muitas ocasiões, seu olhar atento e sua escuta sincera trouxeram contribuições significativas à dinâmica do nosso núcleo de prática. Como discípulo número 2 da Família Kung Fu Moy Ka Lai To, Juan ocupa uma posição estratégica: nem por acaso, está situado num ponto de equilíbrio entre o início da estrutura tradicional e sua consolidação contínua. Sua postura diante disso é de extrema dignidade.
O nome Moy To Gaap, que carrega como integrante da Linhagem Moy Yat, reflete bem sua disposição de transitar por entre fronteiras — geográficas, culturais e internas — sempre com o propósito de integrar, aprender e servir.
Na convivência com Moy To Gaap, sinto a presença viva do que o Patriarca Moy Yat nos ensinava sobre o Kung Fu como arte de viver: uma experiência relacional, cultivada na confiança, no tempo partilhado e no compromisso com algo maior que nós mesmos.
Reconhecê-lo como discípulo não é apenas um ato formal; é testemunhar com alegria o florescer de uma vida comprometida com o legado que nos foi transmitido. E é também reconhecer que a riqueza do caminho Kung Fu se revela justamente nessas relações construídas com cuidado, constância e verdade.